O projeto "Para uma história do jornalismo em Portugal", liderado pelo Investigador Responsável deste projeto, Prof. Doutor Jorge Pedro Sousa, produziu, pela primeira vez, histórias gerais e segmentadas do jornalismo em Portugal, centradas nos produtores de notícias, nas mensagens e nos media, considerando o contexto cultural, legal, político e económico. Não se debruçou sobre a experiência histórica da receção das notícias. Este novo projeto pretende colmatar essa lacuna, respondendo à questão "que práticas e experiências de consumo os portugueses tiveram de notícias desde 1930 e como reagiram a elas e que fatores afetaram a memória das notícias e as práticas com as notícias?". Através da história oral, portugueses de diferentes idades, com diferentes percursos de vida e condições contextuais de receção, contam as suas experiências com as notícias divulgadas pelos meios jornalísticos ao longo dos tempos. Parte-se do pressuposto de que os públicos fazem parte do processo jornalístico e o influenciam e que, por isso, são parte integrante de uma história do jornalismo português.
A hipótese a testar é a seguinte: pessoas de diferentes idades, características, histórias de vida e contextos de receção de notícias ao longo do tempo vivenciaram e consumiram notícias também de formas diferentes.
Este é um projeto inovador e pioneiro em Portugal, embora reconheçamos semelhanças com um estudo sobre o consumo mediático das mulheres operárias da Covilhã (centro de Portugal) durante o Estado Novo (1933-1974). Mesmo a nível internacional, não foram encontrados estudos semelhantes especificamente sobre história oral, embora existam estudos sobre memória e audiências e receção de notícias, quase sempre realizados sem a perspetiva diacrónica e histórica que pretendemos dar à investigação e com abordagens diferentes da história oral.
A metodologia do projeto baseia-se na história oral, uma opção democrática e polifónica de fazer história social e recuperar memórias, uma vez que, a partir de entrevistas a uma diversidade de pessoas, registadas por meios eletrónicos ou outros (documentos de origem histórica), se consideram as suas histórias de vida, origens culturais e memórias. Embora a variável determinante na seleção dos entrevistados seja a idade, de modo a respeitar o princípio da máxima diversidade dos casos amostrados, consideraremos também as variáveis de género, estratos e grupos sociais (incluindo minorias), literacia (incluindo analfabetos) e locais de residência (em todo o país), entre outras.
A história oral pressupõe uma abordagem metodológica específica em que o investigador obtém testemunhos memorializados, valorizados em si mesmos e não apenas como dispositivos de recolha de dados, através de entrevistas, gravadas e disponibilizadas publicamente, possibilitando não só a sua utilização por outros investigadores, mas também a sua consulta pública. Esses depoimentos gravados em vídeo são considerados fontes históricas.
Este projeto propõe, especificamente, a realização de entrevistas semiestruturadas, com base num guião pré-estabelecido, a cidadãos portugueses maiores de idade, residentes em Portugal, com o objetivo de recuperar e registar os seus depoimentos e analisar, comparar e divulgar as suas memórias enquanto consumidores de notícias, para posteriormente elaborar uma história oral, devidamente contextualizada, das práticas, hábitos e experiências da receção de notícias no país, ou seja, uma história oral da(s) audiência(s) de notícias em Portugal.
As entrevistas serão registadas em vídeo. Estes registos funcionarão como documentos-fonte para a elaboração da história oral das práticas e experiências de consumo e receção de notícias em Portugal contadas do ponto de vista de uma amostra de portugueses. As entrevistas serão disponibilizadas no YouTube, que funcionará como um instrumento de valorização e registo das memórias e testemunhos pessoais dos entrevistados e das suas histórias de vida enquanto consumidores de notícias.